ADAPTADO
Meu filho mais velho é uma figura ímpar. Desde de pequeno ele demonstrava
sua excentricidade latente. Ele por exemplo ia para o banheiro para fazer o
dois, munido de um dicionário e isto já na tenra idade, logo depois que
começou a ler e isto foi muito precocemente realizado. Suas reações como
criança eram diferentes. Meninos entre amigos, brincam, mas as vezes brigam.
Certa vez, um vizinho grandão em relação aos meus meninos, brincando lá em
casa, lá pelas tantas se desentenderam e começou a brigar com meu outro
filho, o do meio. E este apesar de ser valente e não se curvava a outros
meninos, mesmo que maiores ou mesmo os mais fortes que ele, mas podendo
ter a ajuda do irmão não titubeou. Pediu ao irmão mais velho ajuda. Ele foi, só
que não foi dar porradas sem escolha. Procurou atingir os pontos fracos do
adversário. O alvo era o nariz, os ovos, a garganta, o queixo, o peito do pé. E o
irmão em vez de achar bom, ficou foi irritado com aquele preciosismo. Porra!
Desce o cacete neste filho de uma égua!
Suas despreocupações com o mundo eram gritantes. Certa vez, a mãe dele
notou que toda vez que ele ia sair colocava a mesma camisa, uma de cor roxa.
E por conta disto lhe disse: “Menino, vista outra roupa! ” Ele respondeu: “Mas
mãe, as outras não cabem mais em mim. ” O cara nem para pedir para
comprar roupas nova ele fazia. Não estava nem aí! Para que se podia sair com
a que cabia! É uma questão de estilo, eu acho!
Já adulto ele foi fazer seu curso de medicina em Teresina, no Estado do Piauí.
De vez em quando eu e a minha mulher íamos lhe visitar. Como todos sabem,
aquela capital é um dos lugares mais quentes do Brasil. Dizem até (de
brincadeira é claro) que o problema do calor de lá é porque a cidade tem
muitos ar condicionados e as máquinas deles provocam aquele excesso de ar
quente. Complementam estas besteiras dizendo que a umidade relativa da
cidade é tão alta que aquela de sensação maior de calor, é por ela ser entre os
rios, o Parnaíba e o Poti, tornando o clima da cidade igual ao da cloaca de
galinha, quente e úmido.
Mas até das coisas insuportáveis meu filho é desligado. Certa vez chegamos
naquela capital e ele foi nos buscar no aeroporto. Quando entramos no seu
carro para nos deixar no hotel (onde ele morava não dava para nós ficarmos),
para variar estava um calor de arrasar e os vidros do carro dele estavam
abertos. Aí eu reclamei. Ei cara, fecha os vidros e liga o ar condicionado. Para
que pai? Perguntou meu filho inocentemente, como não precisássemos de
refrigeração! Acho que ele se adaptou ao clima quente da cidade. Pode?
É isto não é nada! O cara é de outro mundo. Certa vez, combinou com um
colega estudarem juntos. Marcaram a hora e o colega deu o endereço, pois era
a primeira vez que ele ia lá. O colega morava em um condomínio e o edifício
tinha duas torres e o endereço era na torre A, apartamento número tal. Meu
filho lá chegando subiu, mas em vez de ir para a torre A foi para a B. Chegando
no apartamento, uma senhora o atendeu e ele disse que tinha ido estudar com
o filho dela para uma prova breve. A senhora estranhou o fato no início, pois
seu filho não era de estudar, mas milagres acontecem e avisou que ele não
tinha ainda chegado, mandando meu filho entrar e o convidou para jantar.
Como ele não tinha feito a refeição da noite ainda, aceitou e foi jantar. Quando
ele estava quase acabando de comer, o outro garoto chegou e claro, não era o
colega do meu filho.
Esclarecido a falha, rimos muito da história e soubemos que a senhora mãe do
garoto do endereço errado, foi muito simpática e foi deixar meu filho no local
certo que ele tinha que ir estudar. Isto são algumas amostras de uma pessoa
que está sintonizado noutra rádio e tudo está bom para ele. Que exploda o
mundo, que certamente ele nem está preocupado!
Bob Briand
Nosso email: falecom@bobbriand.com.br
Obrigado por ler!