Eu tinha dois vizinhos, que não moravam realmente próximos de mim. Eles eram pais de amigos da turma da esquina, mas moravam numa rua paralela a minha. Um em cada esquina, pois os quarteirões deles eram divididos por uma rua transversal. Eles eram exímios seresteiros, um tocava violão normal e o outro um violão de doze cordas. Além disto eram muito amigos e religiosos e sempre que podiam iam para a igreja rezar por nós.

Por conta desta última verve, vou contar o que o filho de um deles contou para nós e o outro confirmou. Certa vez, eles foram para um “interiorzinho”, acho que era a cidade que um deles nasceu (não me lembro deste detalhe), para a festa da(o) padroeiro(a) do lugar. E como religiosos fervorosos que eram e talvez por serem da capital, o padre para “puxar o saco” deles e conseguir uns óbolos a mais para a igreja do lugar, deu preferência a eles para irem carregando nos ombros o andor do santo ou santa (sei lá) homenageado(a).

Iam tudo normal na estradinha de terra que ia do “nicho” da imagem do(a) santo(a) e previamente estabelecido passariam por algumas casas ao longo do caminho, onde paravam e rezavam algumas orações, tomavam uma “pinguinha” (que também eram grandes devotos), comiam uns petiscos separados pelos donos da casa e logo em seguiam cantando louvores para a divindade que levavam nos ombros.

Segundo meus amigos, era muito divertido, pois a meninada aproveitava a ocasião para tomar banho nos rios e cachoeiras locais, paqueravam com as meninas e moças dali, bem como faziam algumas traquinagens no percurso. Entretanto, aconteceu um fato inusitado na efeméride religiosa (elas só aconteciam uma vez por ano). A procissão ia toda, as pessoas de fé, cantando e rezando para o santo(a) da devoção, quando surgiu no caminho uma cobra tão grande que quase tomava no comprimento de toda a largura da estradinha.

Foi aquele alarido! Apesar da maioria dos componentes do evento serem roceiros e por conta disto, acostumados com aquelas aparições, organizou-se uma tremenda confusão. Acho que os outros dois carregadores do andor do(a) santo(a) também eram de fora, pois com o acontecimento, se mandaram e deixaram os coitados dos pais de meus amigos em polvorosa situação.

Cada qual ficou sustentando o andor, um na frente e outro atrás e o que estava na frente, acho que era o “seu” Laureano, gritava: “Tenham fé! Seus hereges! Não vai acontecer nada! E realmente não aconteceu. Foi só burburinho. A cobra, acho vendo toda aquela confusão foi embora, mato a dentro e nunca mais foi vista. E felizmente a imagem do(a) santo(a) não caiu e se quebrou!

Rendeu esta história e muita pinga tomada pelos pais dos meus amigos e pelas pessoas de fé que acompanhavam a procissão.

Bob Briand

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