Não muito próximo de minha casa em Belo Horizonte, na Rua Salinas, tinha um bar, onde muitos amigos meus de adolescência nos encontrávamos para “fazer a base” antes de ir para as “horas dançantes” como se chamava na época, as festinhas para a gente conhecer garotas, dançar e jogar conversa fora. Foi nestas “horas dançantes” ou tertúlias (são como eram chamadas as mesmas festas aqui em Fortaleza) e quando me mudei para aqui, frequentei e nelas conheci algumas das primeiras namoradinhas locais e muitos amigos.
Mas antes de ir para lá, como eu disse a gente se reunia no bar da Salinas, que entre nós chamávamos de “bar do fogo”. Me lembro muito bem, que naquela época a polícia dava em cima dos menores de idade que fossem pegos bebendo bebidas alcoólicas. Mas, diziam, não posso confirmar que em cima do bar do fogo citado, morava um juiz de menor, mas nunca fomos incomodados, apesar de lá sempre a gente inventava um “trem” para zoar com os outros. Isto é claro, embalado com bebidas que a gente bebia escondido por trás das prateleiras do bar. No salão da frente era só para o social, os “serviços” mesmos aconteciam nos bastidores sentados nos engradados de cerveja, regado a alguma bebida e alguns tira-gosto que sempre tinha por lá. Uma linguicinha, um torresminho e outros acepipes.
Mas bom mesmo era aprontar com os outros. Por exemplo, nos meses próximos ao meio do ano, quando a temperatura baixava muito (hoje o clima mudou, não faz mais frio como naquela época), o dono do bar, colocava no passeio, uma churrasqueira a carvão de pernas altas. Quem quisesse comer churrasco, escolhia o seu em uma bandeja em cima do balcão do bar e o colocava para assar na brasa e ficava vigiando de vezes em quando. Assava de um lado, assava de outro, quando estivesse no ponto que queria, ele pegava o espetinho e ia de novo até o balcão para passar na farinha e comia. Este processo, eu acredito que levava mais ou menos uma meia hora, mas vá que seja o tempo que for. Quantas vezes a gente aprontava e pegava uns novatos com a seguinte pegadinha. Substituíamos o prato de farinha por sabão em pó. O cara tinha um trabalho de escolher, vigiar no fogo e depois que ia comer, lá vinha o gosto de sabão e em cima disto, todo mundo que estava por ali esperando, dava uma tremenda gozação no “cristo” do dia.
Outra coisa que fazíamos, não sei quem inventou o que vou dizer a seguir, eu acho que algum de nós soube que nos Estados Unidos e na Inglaterra, havia uma brincadeira entre os estudantes, que eles chamavam de streaking que consistia em correr nu por um lugar público. Lá eles faziam por brincadeira, por publicidade ou como um ato de protesto. Numa destas noitadas lá, no bar do fogo, depois que todo mundo estava “para lá de Bagdá e um pouco para cá de Marraquexe”, lá pelas madrugadas, a gente dava corda numa vítima e fazia uma aposta com ele que ele não tinha coragem de dar a volta correndo no quarteirão nu. E o bobão caia na conversa, tirava a roupa e saia correndo. Só que a gente escondia a roupa do freguês e íamos embora. Eu imagino o sofrimento deste individuo para conseguir uma vestimenta qualquer para ir para casa. Era muito divertido!
Bob Briand
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