Faltando uns dois anos para eu me formar com administrador fiz um concurso público para ser estagiário de uma fábrica de beneficiamentos de caju, em Fortaleza, Ceará. Um belo dia, num sábado, peguei carona com o irmão de um amigo e fomos com ele para a Praia do Futuro, aqui mesmo na Capital. Lá pelas tantas, depois de me bronzear e tomar algumas cervas e comer caranguejos (que era o objetivo principal) com os amigos e amigas, fomos de volta para casa. Só que o tal do irmão do meu amigo, resolveu em vez de ir direto para casa, dar uma passada no “cajueiro”, como ele chamava a casa de um amigo dele.

Chegando lá, já tinha uma roda grande de pessoas, tudo bebendo e comendo uns churrasquinhos feitos na hora. Conversa vai, conversa vem soube que o dono da casa, era diretor da fábrica onde tinha feito o concurso para o estágio remunerado. Aproveitei a oportunidade e lhe disse: “Esta semana fiz um concurso lá na sua empresa. Ele muito certo, pois não me conhecia, respondeu: “Se você passar, você vai ter um amigo lá dentro! ” Mas tem uma coisa, está barba você vai ter que raspar. (Nesta época eu fazia um gênero descolado, cabelos e barba compridos).

Passei, raspei a barba, diminui o tamanho do cabelo também e realmente ele virou um amigo, que inclusive quando casei, o chamei para ser meu padrinho. Era amigo, mas não alisava. Na hora de cobrar era profissional, mas mesmo assim num arranjo interno da empresa, ele foi destacado para a implantação de outra fábrica e me levou para seu assistente.

De certa forma foi confortável para mim. Passei a ganhar mais e já não era estagiário, virei efetivo da empresa e o serviço era mais maneiro. Nós éramos poucas pessoas na administração da nova fábrica. Ele como diretor, uma secretária, duas auxiliares, um office boy, um comprador/almoxarife e eu. O resto eram alguns peões empregados, os seguranças da fábrica e os demais eram funcionários das empresas contratadas (aí contava-se os engenheiros e técnicos dos empreiteiros da construção da fábrica e das montagens mecânicas e elétricas dela também).

Mas na outra fábrica, como era muito mais pessoas, as coisas eram mais intensas e as diversidades eram grandes. A maioria dos diretores eram oriundos da Price Water House Coopers, que por si só nos transmitia experiências. Tinha o pessoal da exportação (idem, idem). Tinha a contabilidade que era complexa e atendia todo o Grupo. Tinha o departamento de pessoal, que era enorme, pois tínhamos mais de cinco mil operários e eles em maioria recebiam seus salários semanalmente, ou seja, eram folhas de pagamento todos os sábados.

Era estressante, mais a dinâmica era contagiante. Mas neste novo emprego eu passei a ter um status no Grupo Econômico mais relevante e alguns privilégios, entretanto, mais cobranças. Mas eu ia tocando numa boa, até que concluímos a implantação da fábrica, quando voltamos para a empresa sede e lá também por conta de algumas mudanças, eu fui promovido à gerente de relação industrial. As broncas eram intensas, mas eu ia levando. Peguei de tudo por lá, roubo, incêndio, mudança de processo industrial (de exclusivamente manual, para preponderantemente automatizado). Fiz as alterações que eu achava importantes, criei alguns processos administrativos importantes, mas neste mesmo tempo as finanças da empresa estavam abaladas e a segurança que eu tinha, ficou fragilizada. Foi aí que eu pensei em sair, buscar novos ares na primeira oportunidade que me surgisse e coloquei isto como meta.

Bob Briand

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